Num ataque fulminante o coração financeiro e militar do mundo foi atingido
em suas artérias.
Na história tudo tem um por quê. Assim como a vida não é concebida pela
antiga idéia da geração espontânea, os fatos históricos também não o são.
Há sempre uma gênese, um motor que gera e motiva os atos e fatos. Não foi
diferente o atentado contra os EUA.
O fato desenhado está longe da compreensão, somente, de um "terrorismo islã
patrocinado por um grupo de fanáticos com roupas, costumes e cultura
exótica", é preciso entendermos o sistema e a realidade. Historicamente é
comprovado que atentados nunca contribuiram às causas, aos movimentos, às
transformações das estruturas de classe, mas podemos direcionar o momento,
ao menos, para debater minimamente o mundo. Discutirmos, por exemplo, os
tipos de terrorismo, além de homens suicidas e carros bombas. Há o
terrorismo oculto pelo aparato da midia, praticado contra 2,7 bilhões de
habitantes dos países da periferia capitalista, que não possumem saneamento
básico, ou os 1,5 bilhões de habitantes, que não têm proteínas suficientes
em sua dieta diária. O terrorismo tem várias facetas, e é preciso que
prestemos atenção à isso.
Há uma gênese, quando se joga três aviões contra alvos estudados e
planejados, e o que representam. O terrorismo semântico tem os dois lados.
Os EUA arrogam-se o papel da polícia do mundo, não existe meio termo, Bush
sentenciou, "quem não está por nós é contra nós". Vejamos os exemplos
questionadores latino americanos. Quando tentou-se criar governos
minimamente desvinculados à influência do norte, vimos o financiamento via
CIA a golpes ditatoriais. Foi assim no Brasil, Argentina, Cuba, Paraguai,
Nicarágua e mais um sem número de países. E continuamos sob ditadura, agora
"invisível" e do mercado (que se confunde com os EUA). Inescrupulosamente
financiaram também Milosevic e Osama Bin Laden quando servia aos seus
interesses, agora é inimigo número 1 e caçado a peso de ouro. Ainda na
política externa deram as costas ao Protocolo de Kyoto (que busca barrar o
aquecimento global) , ao Tratado Antimísseis Balísticos (TAB) que mantinha
com a Rússia, ao tratado de não produção de minas terrestres, à Conferência
de Durban, financiaram e sustentam Israel na sua luta contra palestinos.
Vemos a intransigência e a arrogância com que os EUA tratam outros povos e
outros países. Pergunte-se por que os EUA agem no Balcãs e não agiram no
Apartheid social na África. Questão econômica, geopolítica. Difundem à
força (seja do mercado ou militar) o tal do "american way of life" como
hegemônico. Ou você se adapta ou é excluído. Esses são apenas alguns
exemplos de como os EUA administram sua política externa. A isso somam-se a
globalização desigual e o neoliberalismo com a desregulamentação dos
mercados do sul contrastando com subsídios agrícolas na França e
sobretaxação de produtos estrangeiros nos EUA.
As pessoas vêem um paradoxo ao constatarem tanta prosperidade econômica,
lá, enquanto (sobre)vivem na profunda miséria no resto do mundo. Desse
modo, não por acaso, os EUA, aos olhos da periferia, incorporam um mal,
representam o prato vazio. São o inimigo a ser combatido. Afinal, como
explicar que enquanto viam nos jornais que nunca a economia estadunidense
cresceu tanto, os latino americanos e caribenhos taxados pela ONU como
pobres eram em 220 milhões, ou 45% da população?
A visão etnocêntrica de Tio Sam vê os diferentes como estranhos, como
exóticos, que julga a sua cultura superior, e que logicamente provoca
reações. O novo setembro negro foi uma. Não do modo mais coerente e
correto, mas foi. Gostaríamos que servisse para que eles repensassem sua
política antes de pensar em vingança de caubóis feridos. Será sim, o
despertar de um nacionalismo ainda mais xenófobo, uma política econômica e
ideológica ainda mais intransigente, unilateral e isolacionista.
O que fica difícil é entender a hipócrita comoção mundial. Os vários "um
minuto de silêncio". O interesseiro maniqueísmo do bem contra o mal.
É fato também que os EUA não tem base moral para condenar Osama. Foram eles
que financiaram todo o treinamento dele e de seus seguidores na década de
80. Naquele momento, quando matava a favor dos EUA, Osama era bom moço?
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