Em tanta coisa ao redor pedindo crônica, que é quase um descalabro escrever sobre um tema tão debatido. Há o Brasil mergulhado em corrupção e o Governo a se fazer de cego, para não dizer compactuando. Há as meninas engravidando aos 12 anos em Santa Rosa, e até abortando. Há chuva em demasia depois de uma seca que ainda nos fustiga.
Mas, depois de acompanhar uma palestra do Assis Brasil, em Horizontina, veio à mente outra vez a questão das cotas raciais nas faculdades brasileiras. O escritor não falou disso, mas defendeu a extinção do vestibular, optando por um processo de acompanhamento ao longo do histórico escolar do estudante. Já se faz isso em alguns países.
Fiquei me perguntando, qual a diferença entre um negro e eu (que sou de pele clara)... Não é um posicionamento racista, visto que sou casado com uma mulher de pele morena. A vida foi complicada em todos os sentidos e eu creio que posso me julgar um vencedor. Há inúmeros outros com as mesmas portas que eu tive e que não souberam chegar. Qual a diferença? Certamente não é a cor da pele.
Os seres humanos são movidos por ódios, por amores, por estranhos emaranhados cerebrais, por desafios, etc e tal. Pobre, residente no interior, pais separados, trabalhando na roça desde os 11. Depois, aos 13, trabalhando em metalúrgica pela manhã, fazendo SENAI à tarde e estudando à noite, ganhando meio salário mínimo e pagando todo este valor de aluguel. Em quatro anos de faculdade não ganhei bolsa da Universidade, nem desconto nas mensalidades, nem Crédito Educativo, quando gente bem menos necessitada ganhou estas regalias. Ganhava só para pagar os estudos.
Pessoas muito próximas a mim, como meu irmão (branco) e meu cunhado (negro), com as mesmas dificuldades, não fizeram a faculdade. Por quê? Persistência, outras escolhas ou sei lá que alusões deveria fazer. Posso dizer que não é a cor da pele que define a vitória, a conquista, mas o esforço que se está disposto a fazer para atingir um objetivo.
Cota é pejorativo, acho até que é uma nova seqüela, uma nova ruptura nessa sociedade que luta para tratar feridas recentes e antigas. Volto a Assis Brasil. As universidades deveriam abolir o vestibular e dar chances iguais a todos, porque nas federais, os alunos de escolas públicas estão sempre no prejuízo. E nelas estão os nossos melhores cursos superiores. Pelo menos a metade das vagas deveriam ser destinadas em todos os cursos às pessoas que vêm de origem social problemática, onde a família ganha pouco. Isso contribuiria para humanizar algumas profissões, como a medicina, cada vez mais elitista e menos próxima dos seres humanos. A maioria dos formados não conhece a realidade do povo e está sem preparo para ela. Cota sim, mas social.
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